quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Parte 8 prelúdio ou interlúdio segundo ...dos embalos de sábado à noite à pulp fiction...

O Brasil estava passando um momento pra lá de critico com o golpe militar, quando nasci, em 31 de maio de 1964. Minha história se confunde com a história do meu País; cresci em plena ditadura, e fiquei ilhada durante muito tempo, como o país durante esse regime totalitário, que só nos fez retroagir no tempo, nos impedindo de crescer e acompanhar o resto do mundo. Sorte mesmo, teve os exilados políticos, que foram expulsos, ou aproveitaram essa enorme confusão e, zarparam fora; triste destino, dos artistas e revolucionários que não conseguiram ir embora do País e foram presos, torturados, mortos ou lesados para o resto de suas vidas. Enquanto isso nós vivíamos tranqüilos e ausentes, totalmente desconectados do mundo, quase sempre sem saber do que acontecia lá fora - na nossa pacata e atrasada ilha bela! Se o Brasil, que é o Brasil estava afastado do mundo, imagina nós pobres Ludovicenses, que mal sabíamos o que acontecia no nosso próprio bravo e amado país, que estava completamente dominado por essa força enorme, bruta e obscura, dita Exército, que ao invés de proteger a nossa nação, à afundava, anulando-a, aniquilando-a, friamente e, sem piedade. Pobres “heróis” oprimidos e subjugados. Onde andaria o povo heróico e o brado retumbante entoando a sua pátria amada, idolatrada! E o sol da liberdade em raios fúlgidos? Totalmente manipulados, sob o controle dos carrascos - ditos generais; tal qual: Hitler, Mussolini e todos esses loucos ditadores, que de vez enquanto aparecem, por aí – perdidos e incontroláveis na fúria do poder - tão bem caricaturada por Charles Chaplin no filme “o Ditador”, escrito e dirigido por ele; mostrando-nos a ambição; cega, desenfreada e desvairada, destes dementes, que queriam ser Deus "o absoluto" – com interpretações de tamanha veracidade, que chegavam à se comparar, com atores do nível de sir Laurence Oliver, dando vida à Hamlet de Willian Shakespeare - dignos de um Oscar. E foi nesse caos revolucionário que eu cheguei nesse mundo de “Deuses” nacionalistas - infelizmente, Brasileiros, porém insanos com certeza!

domingo, 18 de outubro de 2009

Parte 7...preâmbulo II...dos embalos de sábado à noite à pulp fiction...

Meu pai não queria mais ter filhas mulheres, eu já era a quinta que vinha; um menino tentou vir mais papai do céu, não quis, ou talvez quis que ele viesse mesmo era num corpo de mulher, daí o aborto natural e eu. Então eu cheguei, a mais nova das minhas irmãs tinha dez anos à mais do que eu e a mais velha vinte anos - não era filha da minha mãe, mas era e é, uma irmã-dindinha, muito querida. Ela Rosário, sempre me protegeu e me mimou, muito mais do que minha mãe que não tinha tempo para isso – pois vivia exclusivamente à disposição do seu amo, senhor e patrão, meu pai. Eu não tive educação, sempre fiz o que era permitido e o que não era, não tinha limites. A minha vovó Julieta, dita sinhá, já tava bem velhinha quando eu debarquei nesse mundo de meu Deus, que pena! E apesar de ter dado uma boa educação, para as minhas irmãs Rosa e Silvina, não tinha mais fôlego para me criar e então fui realmente mal criada. Ela era bem velhinha e magrinha, tinha aquela cara de anciã mesmo, não sei quantos anos tinha, mas para mim já devia ter mais de 100. Dela só me lembro do dia que recebia sua pensão; tirava um pouco para comprar fumo de mascar e interibioforme e metionina, que comprava e escondia, no pequeno armário dela e o resto ela distribuía para agente, era aquela festa!!! Era mais quem queria acompanhá-la no tal lugar na Magalhães de Almeida, onde ela recebia o seu cobiçado dinheiro. Depois foi murchando cada vez mais, até o dia que desapareceu, dentro de suas roupas e seu pano de cabeça, que escondia seus cabelos grisalhos e ralos. Estava na escola no Pituchinha, devia ter 7 ou 8 anos. Recordo-me de uma sala embaixo, pois em cima era o jardim de infância, devia estar no primeiro ou segundo ano do primário. Me chamaram para ir para casa, devia ser uma três da tarde e logo imaginei que minha vovó sinhá devia ter morrido e, assim foi-se embora, a única que poderia ter dado um jeito em mim, depois disso é que fiquei solta mesmo. Minha mãe passava o dia no “terreno” - lugar onde trabalhava com meu pai, era uma loja de matériais de construção e serraria, uma poeirada só. Eles só vinham para almoçar, descansavam um pouquinho e logo voltavam ao batente. E eu quando não estava na escola, estava aprontando, é óbvio. Mesmo na escola eu era um caso sério. Nessa mesma época teve a história da primeira comunhão, que eu não queria fazer não sei porque e nem queria deixar ninguém da minha turma fazer, acho que tinha implicado, com a pobre de Lucimar, professora de Religião. E como de alguma maneira, liderava e influenciava os meus coleguinhas de sala, acabou que ninguém queria mais assistir a tal da aula e nem fazer a tal da comunhão. Engraçado, que desde essa época já implicava com esses dogmas da religião católica, e das outras também, é claro; Não sou atéia, pelo contrário, mas já tive essa fase, bem mais tarde, quando comecei a me intelectualizar. Acredito, mas não temo a Deus. Deus é algo de maravilhoso que temos dentro de nós, é a nossa consciência, costumo dizer e, não um bicho de sete cabeças ou uma super nany , que algumas religiões tentam encalcar em nossas cabeças, dizendo que Deus é vingativo e temeroso, aquilo e aquilo outro... Que ele toma conta de nós e dita todas as nossas atitudes. Ele nos deu a inteligência e com ela o livre arbítrio e todos os nossos atos, são inteiramente da nossa total responsabilidade, assim como o destino. Somos nós que de acordo com nossas escolhas, nos destinamos à nosso temido, mas sempre merecido destino. Mamãe foi chamada na escola e teve de me obrigar a fazer a primeira comunhão, juntamente com o resto da turma, que estavam decididos a fazer, só se eu fizesse, senão nada feito. E assim fizemos a tal da comunhão, ainda bem que foi de farda, pois achava medonho aquele chambre branco. Com direito a confissão e, um monte de Pai Nosso e Ave Maria, como punição – essa rezas, quem me ensinou foi Dona Júlia – segunda esposa do meu avô Jonas - pai do meu pai - , numa rede lá na casa deles, estupefata, porque eu não sabia rezar! O que ia fazer se a minha mãe nunca tinha me ensinado? Aceitei e até hoje foi tudo que aprendi de reza decorada - Tudo o que me foi ensinado com amor e sem cobranças, eu aqueri. Mas o que acho bacana mesmo, é uma oração espontânea e sentida, vinda de dentro do coração. Imagina meus pecados da época, eram só besteiras, sem maldades, nem intenções, é por essas e outras, que nos transformamos em pecadores desnaturados, sem parâmetros para diferenciar o bem do mal, que muitas vezes nos metem em prova e, nós, imaturos - como quando crianças, quando fomos julgados e punidos, por tão pouco ou simplesmente nada, ficamos com mêdo e nos culpamos, muitas vezes, assim , desenvolvemos um monte de doenças, que são justamente essas culpas e recalques impregnados no nosso espírito. Nessa mesma época, na minha escola Pituchinha, tinha um micro - ônibus, ele era lindo branquinho com listas vermelhas e azuis - as mesmas cores da farda, com uma gravatinha comprida vermelha; acho que foi o primeiro Ônibus escolar da cidade, antes dele aparecer, ia à pé com Lindalva, minha babá, para a escola, que não ficava tão longe da minha casa, que era no centro da cidade também. Pedi logo para papai, que acatava com todos os meus pedidos , para também ir de ônibus - para raiva de Silvina, uma das minhas irmãs, que não suportava a minha má criação e vivia reclamando, dos meus caprichos, sempre atendidos, apesar das suas forças contrárias. - nunca ouvidas, para sua total infelicidade. Às vezes ela brigava de se agarrar comigo e nos atracávamos e como ela era 10 anos mais velha, sempre ganhava e aí eu chateada, pedia socorro, para a minha dindinha, que chegava com a sua moral com papai e resolvia tudo a meu favor é claro - enquanto a outra, só podia mesmo, era se morder de raiva. Papai não se metia nessas brigas domésticas e mamãe também não se envolvia muito - pois essa tété, era o meu apelido, não tinha jeito mesmo, só a vida ia dar um jeito nela, um dia, quem sabe? Isso, ela disse numa outra ocasião, depois vamos chegar lá. Eu era a que morava mais perto da escola, mas no trajeto do ônibus, eu era a ultima a chegar em casa, passava pelo Anil, onde meu amigo mugrelha morava - quem me lembrou e pediu para eu escrever sobre esse famoso ônibus. Sei que tinha uma meninas mais velhas do que eu e um moça magrinha do cabelo curto e preto enroladinho, a coitada, que disque, tomava conta da gente, eu é que não queria estar no lugar dela! Comecei a fumar aí com essas garotas, à comprar carteira de cigarro e coisa e tal; nesses trajetos imensos e diários, que iam do centro ao Olho d’agua, uns 20 km da minha casa, pois elas moravam lá e, eu era a ultima à ser deixada em casa. Chegava na hora do Jornal Nacional, acho eu. Mas adorava a arrumação, nos divertíamos, cantávamos, fumávamos e a pobre da moça, que tomava conta da gente, depois resolveu colaborar e nos deixar fazer o que bem entendêssemos, dentro dessa nave espacial. Depois comecei a fumar lá embaixo no porão da minha casa e minha irmã Rosinha, seguindo o cheiro, acabou me descobrindo com Fulô – minha companheira infalível, de todas as horas e peraltices. Comecei a fumar aqueles cigarrinhos de chocolate, depois Du Maurier - que minha irmã, trazia do Rio – para ela é claro, Albany, Minister, Hollywood. Todo mundo fumava, era lindo! A primeira vez que fumei tinha 5 anos, foi uma outra irmã Fátima – irmã da minha dindinha, quem me deu – é lógico que foi eu quem pediu e ela me ensinou a tragar – eu pensava que tragar era engolir a fumaça e soltar pelo nariz. Alguns anos depois com Heloisa, é que fui entender que estava altamente equivocada. Não sei como a nossa farra do ônibus foi descoberta e acabou por acabar. A moça deve ter sido despedida e eu fiquei sem o meu aniversário de 8 anos. Mas graças a uma vizinha, Gracinha, loura linda e bailarina, que também me mimava bastante e gostava de fazer bolos, não passou em branco e, não passou mesmo. Ainda hoje me lembro desse bolo com cara de Mickey Mouse, as orelhas e cabelos de ameixa e os dentes de chiclete branco e aí, tchan, tchan, tchan, tchan !!!!! Na hora dos parabéns, tiraram a vela e colocaram um cigarro na boca do Mickey – deve ter sido Rosa ou Silvina – mais provável. Mas o que importa é que tive bolo, não importa se a vela foi um cigarro. E assim eu continuei à aprontar muitas e muitas outras, não existia limites para mim, só a vida iria me ensinar, ou não, quem sabe ?

parte 6 prelúdio ou interlúdio primeiro...(como quiserem ou...)...dos embalos de sábado à noite à pulp fiction...

E o meu filme continua fervilhando e rodando na minha tela interior, desfilando imagens de pessoas, de lugares, querendo retomar formas esquecidas, que já não são mais. Mas que podem certamente emergir de algum lugar das profundezas das minhas lembranças longínquas: Porém agora somente adormecidas e não mortas. Pois a morte, nada mais é que transmutação, transformação de energia, de emoção, de sentimento, de plano espiritual e, assim por diante. O que seria do amanhã se não fosse o hoje e o do hoje sem o ontem; Nada de nada, não devemos fugir do passado, nem do que foi bom e, muito menos do que foi ruim, temos de mergulhar no seio das nossas vivências, como uma volta ao útero e, tentar quem sabe nos procurando, lá naqueles momentos que passaram; Algumas vezes resolvidos, outros não, o que somos hoje; no que nos transformamos e o que ainda temos de buscar, para talvez nos resolvermos afinal; Somente assim, encarando o que fomos, talvez tenhamos alguma resposta para o que somos hoje e, talvez recuperando o que falhou ou o que não foi, resolveremos melhor o amanhã e assim sendo, quem sabe não seremos, o que queremos realmente ser, no futuro: Que nada mais é que o resultado das nossa atitudes, das nossa escolhas. E por isso é, que procuro insistentemente , garota sapeca, precoce, alegre e metida, que fui, para tentar entender essa mulher em quem me transformei.