sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Parte 10 preâmbulo IV... dos embalos de sábado à noite à pulp fiction...

Tudo era lindo, divino e maravilhoso! A vida pulsava em nossas veias, O amor surgia e nos elevava, ao topo da nossa juventude; a famosa fase das descobertas acontecia e irradiávamos de beleza e alegria, sem preâmbulos, sem preparos, sem receitas, com o coração aberto e cheio de sonhos. A cidade fervilhava dentro de suas possibilidades de acontecimentos-que, diga-se de passagem, eram poucos, porém suficientes para nós, pobres adolescentes, no maximo influenciados pelas novelas ou pelos poucos filmes que aqui chegavam. O que nos interessávamos, era pela nossa rotina do dia a dia, escola, aniversários - que nessa época eram festinhas inesquecíveis, onde dançávamos o rock-roll e as musicas lentas coladinhas nos rostinhos e corpos – opa! Isso era proibido, mas eles aproveitavam para nos mostrar e nos induzir os seus desejos primitivos e animais, ou seja, com a puberdade à flor da pele, saltitantes e salientes, saltavam sobre nós, querendo sempre mais, curvados sobre nós - os nossos pretendentes ou amores platônicos, às vezes jamais desvendados e quase sempre velados. Nós quase sempre éramos garotas ingênuas e inocentes; eles nos empurravam, nos deixando coradas e sem graça, à beira de um tombo e quase sempre sem entendermos, o porquê de tanta protumberância e inclinação e, para nos defendermos recuávamos, nos afastando e o espetáculo era hilário, o que era para ser junto, era cada segundo mais afastado. Não sei de onde surgiam os points de encontro, quase sempre na Rua Grande, pelo menos os primeiros, no meu lembrar. Recordo-me da Lobras, do Ocapana e das Utilidades Americanas; eram lojas, que tinham lanchonetes, que freqüentávamos depois da escola e onde marcávamos ponto e ficávamos paquerando e conversando. Era mágico, surreal, pois a realidade, nem sempre é real, depende do nosso momento e do nosso foco. E nas nossas cabeças tudo era novo e genial. Algumas meninas que não tinham turma com quem ficar, passavam e, assim ficavam subindo e descendo a Rua Grande, que nem riri de p..t.. - costumávamos à dizer brincando. Depois teve a Skina, em frente ao ICBEU, lá na Rua do Sol. A nossa cidade, tem nomes de ruas lindas e às vezes engraçadas, como: da Paz, da Alegria, de São João, das Flores, do Passeio, da Inveja, da Saúde, das Hortas, da Viração, dos Afogados, da Cruz, Formosa, das Crioulas, da Palma, do giz, da Estrela, largo dos Amores, Beco da Bosta, do Quebra – Bunda, da Pacotilha, Praça da Misericórdia, dos Remédios e etc... E nessas ruas de nomes inusitados, trafegávamos ávidos de vida e de esperança. Fora esses pontos de encontros, que íamos de tardinha ou nas férias, tinha também as noites esportivas e os sábados à tarde no Jaguarema, clube social, que freqüentávamos tanto nesses dias especiais, quanto no carnaval. Eu não era sócia, nem do Jaguarema, nem do Litéro, outro clube da cidade, mas que íamos mais durante o carnaval, nas vesperais; depois dávamos um jeito de participar dos corsos, vestidos de macacões, patrocinados por alguma empresa, em cima de caminhões, repletos de tonéis de água, que com baldes ou bombas de cano, jogávamos nas pessoas, isso quando não era água da sarjeta. O carnaval era uma festa realmente divertida nessa época; jogávamos ovos e maisena e, quando voltávamos para casa, antes dos bailes da noite, o cabelo era um fedor só - mas era só lavar rapidamente e hop, já estávamos novamente prontos tra vez. Eu como disse não era sócia desses clubes, pois era longe e papai, não ia, só ia mesmo era no Casino que era pertinho de casa e de onde o carro voltava sozinho; esperando a saidera, a expulsadeira e a pé na bunda, eu e Fulô torrávamos no sol e ficávamos engeadas de tanto banhar na piscina, esperando a hora de ir embora, que não chegava nunca, para a nossa alegria. Na boate do Jaguarema íamos aos domingos, oh dia ingrato! Mas só que nessa época era diferente, esperávamos ávidos que chegasse; primeiro era a praia no bar Rosangela, no Olho D”água, onde era o point, depois as 17:00 já estávamos batendo o ponto na Boate do Jaguarema; ía ou com Heloisa, ou com Márcia - o pai dela, seu Amaury, era quem nos levava e íamos parando em cada esquina, perguntando where is Jaguarema? Entre risos e gaitadas, que os transeuntes não entendiam nada, pois dávamos uma de estrangeiros. Às vezes ia com Elaine, outra grande amiga e o nosso secador era o ar quente do ar condicionado, do lado de fora da casa; o cabelo ficava um arraso; melhor mesmo só o secador profissional da casa de Helô, que fazíamos massagem com Biorene e depois estávamos prontas para a balada. No Jaguarema deixei minha marca no teto baixo de espelho da Boate, numa das minhas acrobacias, quando evoluía nas danças com França, quando ele me jogava para o alto; dei uma bela de uma cabeçada no teto que espatifou-se, mas só doeu a cabeça, não chegou a cortar- ainda bem, senão cortaria todo o barato da performance. Que pena que do Jaguarema nada restou, nem um tijolo sequer e, muito menos a minha marca no teto da boate; o clube ficou abandonado, faliu e os vândalos roubaram tudo do finado clube. Ainda bem que restou nossas recordações e nossas emoções que vivenciamos lá. Tocava até rock; Mick jagger cantando “I can’t get no”- nem sabia quem era, mas não tinha importância nenhuma, o importante era o êxtase, onde a musica nos importava. Bem mais tarde fui conhecer esse artista maravilhoso e irreverente rebolador e inovador, só perdendo para Iggy popy, totalmente “hors concours”. Lembro de quando era criança, ainda no Pituchinha, fomos passar num dia das crianças lá e, tinha até uma roda-gigante, que não era muito alta, mas era linda e colorida; fizemos um pic-nic daqueles., com direito à muita cola Jesus. Oh saudade! São tantas as lembranças gostosas, que nem o tempo nem os vândalos, que saquearam o Jaguarema, não conseguiram roubar. País sem educação,- por culpa do governo, que não oferece o mínimo de sobrevivência para a maioria dos seus cidadões menos favorecidos - ditos vândalos, os coloca numa posição de ladrões, às vezes somente, pela luta da sobrevivência precária e sem saída na qual vivem. E o pior é que nós, um pouco mais instruídos, sabemos quem são os ladrões verdadeiros e, mesmo assim também elegemos, por convêniencia, muitas das vezes; talvez “eles", os mais desfavorecidos”, já desconfiem – "eles" mesmos," essas pessoas leigas e facilmente influenciáveis, sempre elegem, esses vigaristas, cavando cada mais os seus buracos – por total falta de esclarecimento e visão política ou simplesmente por medo de aceitar a realidade absurda, na qual vivemos e fingimos que está tudo bem- mas eles, diferentes de nós, não são beneficiados em nada, só são enrolados e usados, totalmente manipulados - quanto à nós, classe privilegiada - somente pela nossa comodidade e bem estar - esquecendo, como nossos dirigentes, do que é essencial.. O povo é tal “um poeta que finge não sentir a dor que deveras sente”. A dor maior é a fome, símbolo de sobrevivência primaria e animal, que nem um ser não pode viver sem e, que alguns animais chegam à matar para poder saciá-la- e nós pobres humanos, sem humanidade, concordamos calados e abnegados, em nome das nossas posições sociais efêmeras e mundanas. E assim se foi o Jaguarema, com todos as paredes, espelhos e azulejos, em nome da miséria e falta de dignidade em que se encontra boa parte do nosso povo Brasileiro. E à nós, resta ficar eternamente à perguntar where is Jaguarema?

domingo, 25 de outubro de 2009

Parte 9 preâmbulo III...dos embalos de sábado à noite à pulp fiction....

“...Caminhando e cantando e seguindo a canção, somos todos iguais braços dados ou não, nas escolas, nas ruas...” E assim fui crescendo e tomando forma de gente, nessa ilha do amor - ilhada e desinformada. Éramos totalmente despreocupados e leves, caminhávamos contra o tempo sem lenço e sem documento. A situação do país não nos atingia, pois nunca tínhamos vivido antes do golpe militar, cultura só a popular, a tradicional, e, a que não tinha sido censurada ou proibida. E assim curtíamos adoidadados a nossa pequena cidade, que era bem agitada - pelo menos eu achava. Nada era sério, grave ou importante; só queríamos mesmo, era participar dos agitos, e ir aos points, onde nos encontrávamos. Fora alguns eventos anuais, o resto era uma rotina só e só se mudava os locais de encontro ou o nome deles, entendem? Os JEMS (JOGOS Estudantis Maranhenses), era o maior dos eventos que acontecia por aqui, todo os anos -pelo menos para mim; em primeiro lugar porque quase não se tinha aula e depois era legal ir para os diversos locais, onde aconteciam os jogos, principalmente para o ginásio Costa Rodrigues; seguindo as nossas escolas e os nossos atletas favoritos, éramos a torcida organizada; com musiquinhas pra lá de engraçadas, e umas frases malucas em inglês, que eu não sei onde China inventou, que dizia mais ou menos assim: "every bary, wanna now, dont now, dont now, every bary togueder, every baryyyyyyyy toguedeeeeeerrrr". Eu adorava, assistir os jogos, nunca consegui ser uma atleta de verdade e nem nunca me sobressaí em esporte nenhum e bem que tentei; comecei com Ginástica Olímpica, depois passei para o Vôlei, Handebol, Atletismo - nesse então, não deu para ficar nem uma semana - já que detestava correr, não sei porque diabos, resolvi me meter nisso, mas fazia parte: só no Basquete, por incrível que pareça, pois sou um toquinho - como meu amigo Rildo me chamava; mas só depois é que fui entender que não era pela minha estatura, mas pelos meus peitinhos, que demoravam à brotar, ficando só aquele saliente carocinho empurrando a blusinha; até que conseguia fazer umas cestas de longe, lá da cabeça do garrafão, a minha munheca, até acertava de vez enquanto. Fiquei toda orgulhosa quando Paulão me botou para participar da equipe juvenil de basquete do colégio Batista, tava no banco de reservas, mas tava ali, aplicadíssima marcando a lambrada. Aí de repente, ele me fez entrar para jogar, fiquei nervosa e fui com toda vontade, mal entrei na quadra e levei uma bela de uma cotovelada, de uma altona, parece que era uma tal de Rosemary, ou uma irmã dela; dei-lhe uma porrada no quadril- que era o lugar mais alto que eu conseguia tocar nela, para me vingar e acho que fui expulsa, ou me tiraram da quadra. O time juvenil, era das mais velhas e nós além de pequenas e mais novas que as do outro time o infanto; éramos da escolinha: Eu, Gal, Orlane, Gisele, Jackeline, Paula, Lilia R, Adalgisa e etc... e então ele nos botou, pra jogar; só para cobrir um buraco e nos dar experiência. A verdade, verdadeira é porque ele não tinha ninguém para botar lá; pois o time bom dele era o infanto-juvenil, mas que não tinha vaga para agente, pois estávamos ainda começando, algumas dessas citadas acima, chegaram a se destacar pouco tempo depois - quanto à mim depois dessa desisti de esporte. Mas como nosso colégio era tetra campeão, tinha de participar de todas as categorias, mesmo com times tipo o nosso, completamente fora de qualquer catigoria hahahahaha! O Batista era o melhor do JEMS e por isso fui estudar lá, saindo do Pituchinha, meu pai não queria, porque além de ser longe, era colégio de crente e ele era super Católico, Apostólico Romano - e já tinha tido aquela história da primeira comunhão - que acredito que ele nem soube, senão aí mesmo é que não concordaria. Tinha uma família protestante que morava perto da minha casa, numa escadaria e lembro que um dia eu pedi ao seu Durval, pai de Serjola, meu amigo, para me levar para um culto, que eles iam nos domingos na igreja Batista, fui escondido do meu pai e, para a minha surpresa adorei, acho que é porque depois do culto, tinha umas turminhas que discutiam e explicavam, o que o pastor disse, interpretando as palavras da Bíblia; só sei que comecei a freqüentar e que quando vi um batismo, vibrei; era como uma peça de teatro, o palco se abria e uma piscina aparecia e as pessoa que estavam se batizando, no dia que assisti, eram todos adultos, eram banhados, como Jesus Cristo, por São João Batista; achei tudo aquilo magnífico e teatral. Pedi uma Bíblia para o meu pai, que se assustou, porque eu não gostava nem de entrar na igreja católica e assistir aquelas missas, onde não entendia nada e a pior ainda tava por vir, queria eu também ser batizada, naquele palco lindo e iluminado, com os espectadores todos bebendo o sangue de cristo e comendo o pão da vida, num espetáculo divino e suntuoso; mas fui eu mesma que acabei desistindo de participar dessa história – não sei porque, mudei de idéia, era bem outra novidade que, já me chamava. Eu queria ir, para o colégio Batista mesmo, era porque, ele era todo ano campeão olímpico e dava o maior ibope - lembro, do pentacampeonato, já era quase meia noite, quando acabou o jogo de basquete juvenil masculino, num time só de feras: Charles, Dudu, Quirino, Antonio José, Betinho, Paulo D”ávila, Popó entre outros, que não lembro agora. Fomos andando do centro, onde era o ginásio até o João Paulo, onde era o colégio, longe pra caramba. estávamos muito alegres de ter conseguido o titulo. E em total harmonia, bravamente; fomos entoando bem alto, com brio o hino da escola, desfilando pelas ruas orgulhosos com o troféu nas mãos, madrugada afora; até o diretor de disciplina, o temido, prof. Emilio e o prof. Figueiredo diretor geral do colégio, acompanhava o cortejo. Foi liberado refrigerantes e cachorros-quente para todos. o maior carnaval fora de época, jamais visto...“caminhando e cantando e seguindo a canção, somos todos iguais braços dados ou não, nas escolas, nas ruas, campos, construção... Bem vamos embora que esperar não é saber, quem sabe faz a hora, não espera acontecer...”