sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Parte 10 preâmbulo IV... dos embalos de sábado à noite à pulp fiction...

Tudo era lindo, divino e maravilhoso! A vida pulsava em nossas veias, O amor surgia e nos elevava, ao topo da nossa juventude; a famosa fase das descobertas acontecia e irradiávamos de beleza e alegria, sem preâmbulos, sem preparos, sem receitas, com o coração aberto e cheio de sonhos. A cidade fervilhava dentro de suas possibilidades de acontecimentos-que, diga-se de passagem, eram poucos, porém suficientes para nós, pobres adolescentes, no maximo influenciados pelas novelas ou pelos poucos filmes que aqui chegavam. O que nos interessávamos, era pela nossa rotina do dia a dia, escola, aniversários - que nessa época eram festinhas inesquecíveis, onde dançávamos o rock-roll e as musicas lentas coladinhas nos rostinhos e corpos – opa! Isso era proibido, mas eles aproveitavam para nos mostrar e nos induzir os seus desejos primitivos e animais, ou seja, com a puberdade à flor da pele, saltitantes e salientes, saltavam sobre nós, querendo sempre mais, curvados sobre nós - os nossos pretendentes ou amores platônicos, às vezes jamais desvendados e quase sempre velados. Nós quase sempre éramos garotas ingênuas e inocentes; eles nos empurravam, nos deixando coradas e sem graça, à beira de um tombo e quase sempre sem entendermos, o porquê de tanta protumberância e inclinação e, para nos defendermos recuávamos, nos afastando e o espetáculo era hilário, o que era para ser junto, era cada segundo mais afastado. Não sei de onde surgiam os points de encontro, quase sempre na Rua Grande, pelo menos os primeiros, no meu lembrar. Recordo-me da Lobras, do Ocapana e das Utilidades Americanas; eram lojas, que tinham lanchonetes, que freqüentávamos depois da escola e onde marcávamos ponto e ficávamos paquerando e conversando. Era mágico, surreal, pois a realidade, nem sempre é real, depende do nosso momento e do nosso foco. E nas nossas cabeças tudo era novo e genial. Algumas meninas que não tinham turma com quem ficar, passavam e, assim ficavam subindo e descendo a Rua Grande, que nem riri de p..t.. - costumávamos à dizer brincando. Depois teve a Skina, em frente ao ICBEU, lá na Rua do Sol. A nossa cidade, tem nomes de ruas lindas e às vezes engraçadas, como: da Paz, da Alegria, de São João, das Flores, do Passeio, da Inveja, da Saúde, das Hortas, da Viração, dos Afogados, da Cruz, Formosa, das Crioulas, da Palma, do giz, da Estrela, largo dos Amores, Beco da Bosta, do Quebra – Bunda, da Pacotilha, Praça da Misericórdia, dos Remédios e etc... E nessas ruas de nomes inusitados, trafegávamos ávidos de vida e de esperança. Fora esses pontos de encontros, que íamos de tardinha ou nas férias, tinha também as noites esportivas e os sábados à tarde no Jaguarema, clube social, que freqüentávamos tanto nesses dias especiais, quanto no carnaval. Eu não era sócia, nem do Jaguarema, nem do Litéro, outro clube da cidade, mas que íamos mais durante o carnaval, nas vesperais; depois dávamos um jeito de participar dos corsos, vestidos de macacões, patrocinados por alguma empresa, em cima de caminhões, repletos de tonéis de água, que com baldes ou bombas de cano, jogávamos nas pessoas, isso quando não era água da sarjeta. O carnaval era uma festa realmente divertida nessa época; jogávamos ovos e maisena e, quando voltávamos para casa, antes dos bailes da noite, o cabelo era um fedor só - mas era só lavar rapidamente e hop, já estávamos novamente prontos tra vez. Eu como disse não era sócia desses clubes, pois era longe e papai, não ia, só ia mesmo era no Casino que era pertinho de casa e de onde o carro voltava sozinho; esperando a saidera, a expulsadeira e a pé na bunda, eu e Fulô torrávamos no sol e ficávamos engeadas de tanto banhar na piscina, esperando a hora de ir embora, que não chegava nunca, para a nossa alegria. Na boate do Jaguarema íamos aos domingos, oh dia ingrato! Mas só que nessa época era diferente, esperávamos ávidos que chegasse; primeiro era a praia no bar Rosangela, no Olho D”água, onde era o point, depois as 17:00 já estávamos batendo o ponto na Boate do Jaguarema; ía ou com Heloisa, ou com Márcia - o pai dela, seu Amaury, era quem nos levava e íamos parando em cada esquina, perguntando where is Jaguarema? Entre risos e gaitadas, que os transeuntes não entendiam nada, pois dávamos uma de estrangeiros. Às vezes ia com Elaine, outra grande amiga e o nosso secador era o ar quente do ar condicionado, do lado de fora da casa; o cabelo ficava um arraso; melhor mesmo só o secador profissional da casa de Helô, que fazíamos massagem com Biorene e depois estávamos prontas para a balada. No Jaguarema deixei minha marca no teto baixo de espelho da Boate, numa das minhas acrobacias, quando evoluía nas danças com França, quando ele me jogava para o alto; dei uma bela de uma cabeçada no teto que espatifou-se, mas só doeu a cabeça, não chegou a cortar- ainda bem, senão cortaria todo o barato da performance. Que pena que do Jaguarema nada restou, nem um tijolo sequer e, muito menos a minha marca no teto da boate; o clube ficou abandonado, faliu e os vândalos roubaram tudo do finado clube. Ainda bem que restou nossas recordações e nossas emoções que vivenciamos lá. Tocava até rock; Mick jagger cantando “I can’t get no”- nem sabia quem era, mas não tinha importância nenhuma, o importante era o êxtase, onde a musica nos importava. Bem mais tarde fui conhecer esse artista maravilhoso e irreverente rebolador e inovador, só perdendo para Iggy popy, totalmente “hors concours”. Lembro de quando era criança, ainda no Pituchinha, fomos passar num dia das crianças lá e, tinha até uma roda-gigante, que não era muito alta, mas era linda e colorida; fizemos um pic-nic daqueles., com direito à muita cola Jesus. Oh saudade! São tantas as lembranças gostosas, que nem o tempo nem os vândalos, que saquearam o Jaguarema, não conseguiram roubar. País sem educação,- por culpa do governo, que não oferece o mínimo de sobrevivência para a maioria dos seus cidadões menos favorecidos - ditos vândalos, os coloca numa posição de ladrões, às vezes somente, pela luta da sobrevivência precária e sem saída na qual vivem. E o pior é que nós, um pouco mais instruídos, sabemos quem são os ladrões verdadeiros e, mesmo assim também elegemos, por convêniencia, muitas das vezes; talvez “eles", os mais desfavorecidos”, já desconfiem – "eles" mesmos," essas pessoas leigas e facilmente influenciáveis, sempre elegem, esses vigaristas, cavando cada mais os seus buracos – por total falta de esclarecimento e visão política ou simplesmente por medo de aceitar a realidade absurda, na qual vivemos e fingimos que está tudo bem- mas eles, diferentes de nós, não são beneficiados em nada, só são enrolados e usados, totalmente manipulados - quanto à nós, classe privilegiada - somente pela nossa comodidade e bem estar - esquecendo, como nossos dirigentes, do que é essencial.. O povo é tal “um poeta que finge não sentir a dor que deveras sente”. A dor maior é a fome, símbolo de sobrevivência primaria e animal, que nem um ser não pode viver sem e, que alguns animais chegam à matar para poder saciá-la- e nós pobres humanos, sem humanidade, concordamos calados e abnegados, em nome das nossas posições sociais efêmeras e mundanas. E assim se foi o Jaguarema, com todos as paredes, espelhos e azulejos, em nome da miséria e falta de dignidade em que se encontra boa parte do nosso povo Brasileiro. E à nós, resta ficar eternamente à perguntar where is Jaguarema?

domingo, 25 de outubro de 2009

Parte 9 preâmbulo III...dos embalos de sábado à noite à pulp fiction....

“...Caminhando e cantando e seguindo a canção, somos todos iguais braços dados ou não, nas escolas, nas ruas...” E assim fui crescendo e tomando forma de gente, nessa ilha do amor - ilhada e desinformada. Éramos totalmente despreocupados e leves, caminhávamos contra o tempo sem lenço e sem documento. A situação do país não nos atingia, pois nunca tínhamos vivido antes do golpe militar, cultura só a popular, a tradicional, e, a que não tinha sido censurada ou proibida. E assim curtíamos adoidadados a nossa pequena cidade, que era bem agitada - pelo menos eu achava. Nada era sério, grave ou importante; só queríamos mesmo, era participar dos agitos, e ir aos points, onde nos encontrávamos. Fora alguns eventos anuais, o resto era uma rotina só e só se mudava os locais de encontro ou o nome deles, entendem? Os JEMS (JOGOS Estudantis Maranhenses), era o maior dos eventos que acontecia por aqui, todo os anos -pelo menos para mim; em primeiro lugar porque quase não se tinha aula e depois era legal ir para os diversos locais, onde aconteciam os jogos, principalmente para o ginásio Costa Rodrigues; seguindo as nossas escolas e os nossos atletas favoritos, éramos a torcida organizada; com musiquinhas pra lá de engraçadas, e umas frases malucas em inglês, que eu não sei onde China inventou, que dizia mais ou menos assim: "every bary, wanna now, dont now, dont now, every bary togueder, every baryyyyyyyy toguedeeeeeerrrr". Eu adorava, assistir os jogos, nunca consegui ser uma atleta de verdade e nem nunca me sobressaí em esporte nenhum e bem que tentei; comecei com Ginástica Olímpica, depois passei para o Vôlei, Handebol, Atletismo - nesse então, não deu para ficar nem uma semana - já que detestava correr, não sei porque diabos, resolvi me meter nisso, mas fazia parte: só no Basquete, por incrível que pareça, pois sou um toquinho - como meu amigo Rildo me chamava; mas só depois é que fui entender que não era pela minha estatura, mas pelos meus peitinhos, que demoravam à brotar, ficando só aquele saliente carocinho empurrando a blusinha; até que conseguia fazer umas cestas de longe, lá da cabeça do garrafão, a minha munheca, até acertava de vez enquanto. Fiquei toda orgulhosa quando Paulão me botou para participar da equipe juvenil de basquete do colégio Batista, tava no banco de reservas, mas tava ali, aplicadíssima marcando a lambrada. Aí de repente, ele me fez entrar para jogar, fiquei nervosa e fui com toda vontade, mal entrei na quadra e levei uma bela de uma cotovelada, de uma altona, parece que era uma tal de Rosemary, ou uma irmã dela; dei-lhe uma porrada no quadril- que era o lugar mais alto que eu conseguia tocar nela, para me vingar e acho que fui expulsa, ou me tiraram da quadra. O time juvenil, era das mais velhas e nós além de pequenas e mais novas que as do outro time o infanto; éramos da escolinha: Eu, Gal, Orlane, Gisele, Jackeline, Paula, Lilia R, Adalgisa e etc... e então ele nos botou, pra jogar; só para cobrir um buraco e nos dar experiência. A verdade, verdadeira é porque ele não tinha ninguém para botar lá; pois o time bom dele era o infanto-juvenil, mas que não tinha vaga para agente, pois estávamos ainda começando, algumas dessas citadas acima, chegaram a se destacar pouco tempo depois - quanto à mim depois dessa desisti de esporte. Mas como nosso colégio era tetra campeão, tinha de participar de todas as categorias, mesmo com times tipo o nosso, completamente fora de qualquer catigoria hahahahaha! O Batista era o melhor do JEMS e por isso fui estudar lá, saindo do Pituchinha, meu pai não queria, porque além de ser longe, era colégio de crente e ele era super Católico, Apostólico Romano - e já tinha tido aquela história da primeira comunhão - que acredito que ele nem soube, senão aí mesmo é que não concordaria. Tinha uma família protestante que morava perto da minha casa, numa escadaria e lembro que um dia eu pedi ao seu Durval, pai de Serjola, meu amigo, para me levar para um culto, que eles iam nos domingos na igreja Batista, fui escondido do meu pai e, para a minha surpresa adorei, acho que é porque depois do culto, tinha umas turminhas que discutiam e explicavam, o que o pastor disse, interpretando as palavras da Bíblia; só sei que comecei a freqüentar e que quando vi um batismo, vibrei; era como uma peça de teatro, o palco se abria e uma piscina aparecia e as pessoa que estavam se batizando, no dia que assisti, eram todos adultos, eram banhados, como Jesus Cristo, por São João Batista; achei tudo aquilo magnífico e teatral. Pedi uma Bíblia para o meu pai, que se assustou, porque eu não gostava nem de entrar na igreja católica e assistir aquelas missas, onde não entendia nada e a pior ainda tava por vir, queria eu também ser batizada, naquele palco lindo e iluminado, com os espectadores todos bebendo o sangue de cristo e comendo o pão da vida, num espetáculo divino e suntuoso; mas fui eu mesma que acabei desistindo de participar dessa história – não sei porque, mudei de idéia, era bem outra novidade que, já me chamava. Eu queria ir, para o colégio Batista mesmo, era porque, ele era todo ano campeão olímpico e dava o maior ibope - lembro, do pentacampeonato, já era quase meia noite, quando acabou o jogo de basquete juvenil masculino, num time só de feras: Charles, Dudu, Quirino, Antonio José, Betinho, Paulo D”ávila, Popó entre outros, que não lembro agora. Fomos andando do centro, onde era o ginásio até o João Paulo, onde era o colégio, longe pra caramba. estávamos muito alegres de ter conseguido o titulo. E em total harmonia, bravamente; fomos entoando bem alto, com brio o hino da escola, desfilando pelas ruas orgulhosos com o troféu nas mãos, madrugada afora; até o diretor de disciplina, o temido, prof. Emilio e o prof. Figueiredo diretor geral do colégio, acompanhava o cortejo. Foi liberado refrigerantes e cachorros-quente para todos. o maior carnaval fora de época, jamais visto...“caminhando e cantando e seguindo a canção, somos todos iguais braços dados ou não, nas escolas, nas ruas, campos, construção... Bem vamos embora que esperar não é saber, quem sabe faz a hora, não espera acontecer...”

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Parte 8 prelúdio ou interlúdio segundo ...dos embalos de sábado à noite à pulp fiction...

O Brasil estava passando um momento pra lá de critico com o golpe militar, quando nasci, em 31 de maio de 1964. Minha história se confunde com a história do meu País; cresci em plena ditadura, e fiquei ilhada durante muito tempo, como o país durante esse regime totalitário, que só nos fez retroagir no tempo, nos impedindo de crescer e acompanhar o resto do mundo. Sorte mesmo, teve os exilados políticos, que foram expulsos, ou aproveitaram essa enorme confusão e, zarparam fora; triste destino, dos artistas e revolucionários que não conseguiram ir embora do País e foram presos, torturados, mortos ou lesados para o resto de suas vidas. Enquanto isso nós vivíamos tranqüilos e ausentes, totalmente desconectados do mundo, quase sempre sem saber do que acontecia lá fora - na nossa pacata e atrasada ilha bela! Se o Brasil, que é o Brasil estava afastado do mundo, imagina nós pobres Ludovicenses, que mal sabíamos o que acontecia no nosso próprio bravo e amado país, que estava completamente dominado por essa força enorme, bruta e obscura, dita Exército, que ao invés de proteger a nossa nação, à afundava, anulando-a, aniquilando-a, friamente e, sem piedade. Pobres “heróis” oprimidos e subjugados. Onde andaria o povo heróico e o brado retumbante entoando a sua pátria amada, idolatrada! E o sol da liberdade em raios fúlgidos? Totalmente manipulados, sob o controle dos carrascos - ditos generais; tal qual: Hitler, Mussolini e todos esses loucos ditadores, que de vez enquanto aparecem, por aí – perdidos e incontroláveis na fúria do poder - tão bem caricaturada por Charles Chaplin no filme “o Ditador”, escrito e dirigido por ele; mostrando-nos a ambição; cega, desenfreada e desvairada, destes dementes, que queriam ser Deus "o absoluto" – com interpretações de tamanha veracidade, que chegavam à se comparar, com atores do nível de sir Laurence Oliver, dando vida à Hamlet de Willian Shakespeare - dignos de um Oscar. E foi nesse caos revolucionário que eu cheguei nesse mundo de “Deuses” nacionalistas - infelizmente, Brasileiros, porém insanos com certeza!

domingo, 18 de outubro de 2009

Parte 7...preâmbulo II...dos embalos de sábado à noite à pulp fiction...

Meu pai não queria mais ter filhas mulheres, eu já era a quinta que vinha; um menino tentou vir mais papai do céu, não quis, ou talvez quis que ele viesse mesmo era num corpo de mulher, daí o aborto natural e eu. Então eu cheguei, a mais nova das minhas irmãs tinha dez anos à mais do que eu e a mais velha vinte anos - não era filha da minha mãe, mas era e é, uma irmã-dindinha, muito querida. Ela Rosário, sempre me protegeu e me mimou, muito mais do que minha mãe que não tinha tempo para isso – pois vivia exclusivamente à disposição do seu amo, senhor e patrão, meu pai. Eu não tive educação, sempre fiz o que era permitido e o que não era, não tinha limites. A minha vovó Julieta, dita sinhá, já tava bem velhinha quando eu debarquei nesse mundo de meu Deus, que pena! E apesar de ter dado uma boa educação, para as minhas irmãs Rosa e Silvina, não tinha mais fôlego para me criar e então fui realmente mal criada. Ela era bem velhinha e magrinha, tinha aquela cara de anciã mesmo, não sei quantos anos tinha, mas para mim já devia ter mais de 100. Dela só me lembro do dia que recebia sua pensão; tirava um pouco para comprar fumo de mascar e interibioforme e metionina, que comprava e escondia, no pequeno armário dela e o resto ela distribuía para agente, era aquela festa!!! Era mais quem queria acompanhá-la no tal lugar na Magalhães de Almeida, onde ela recebia o seu cobiçado dinheiro. Depois foi murchando cada vez mais, até o dia que desapareceu, dentro de suas roupas e seu pano de cabeça, que escondia seus cabelos grisalhos e ralos. Estava na escola no Pituchinha, devia ter 7 ou 8 anos. Recordo-me de uma sala embaixo, pois em cima era o jardim de infância, devia estar no primeiro ou segundo ano do primário. Me chamaram para ir para casa, devia ser uma três da tarde e logo imaginei que minha vovó sinhá devia ter morrido e, assim foi-se embora, a única que poderia ter dado um jeito em mim, depois disso é que fiquei solta mesmo. Minha mãe passava o dia no “terreno” - lugar onde trabalhava com meu pai, era uma loja de matériais de construção e serraria, uma poeirada só. Eles só vinham para almoçar, descansavam um pouquinho e logo voltavam ao batente. E eu quando não estava na escola, estava aprontando, é óbvio. Mesmo na escola eu era um caso sério. Nessa mesma época teve a história da primeira comunhão, que eu não queria fazer não sei porque e nem queria deixar ninguém da minha turma fazer, acho que tinha implicado, com a pobre de Lucimar, professora de Religião. E como de alguma maneira, liderava e influenciava os meus coleguinhas de sala, acabou que ninguém queria mais assistir a tal da aula e nem fazer a tal da comunhão. Engraçado, que desde essa época já implicava com esses dogmas da religião católica, e das outras também, é claro; Não sou atéia, pelo contrário, mas já tive essa fase, bem mais tarde, quando comecei a me intelectualizar. Acredito, mas não temo a Deus. Deus é algo de maravilhoso que temos dentro de nós, é a nossa consciência, costumo dizer e, não um bicho de sete cabeças ou uma super nany , que algumas religiões tentam encalcar em nossas cabeças, dizendo que Deus é vingativo e temeroso, aquilo e aquilo outro... Que ele toma conta de nós e dita todas as nossas atitudes. Ele nos deu a inteligência e com ela o livre arbítrio e todos os nossos atos, são inteiramente da nossa total responsabilidade, assim como o destino. Somos nós que de acordo com nossas escolhas, nos destinamos à nosso temido, mas sempre merecido destino. Mamãe foi chamada na escola e teve de me obrigar a fazer a primeira comunhão, juntamente com o resto da turma, que estavam decididos a fazer, só se eu fizesse, senão nada feito. E assim fizemos a tal da comunhão, ainda bem que foi de farda, pois achava medonho aquele chambre branco. Com direito a confissão e, um monte de Pai Nosso e Ave Maria, como punição – essa rezas, quem me ensinou foi Dona Júlia – segunda esposa do meu avô Jonas - pai do meu pai - , numa rede lá na casa deles, estupefata, porque eu não sabia rezar! O que ia fazer se a minha mãe nunca tinha me ensinado? Aceitei e até hoje foi tudo que aprendi de reza decorada - Tudo o que me foi ensinado com amor e sem cobranças, eu aqueri. Mas o que acho bacana mesmo, é uma oração espontânea e sentida, vinda de dentro do coração. Imagina meus pecados da época, eram só besteiras, sem maldades, nem intenções, é por essas e outras, que nos transformamos em pecadores desnaturados, sem parâmetros para diferenciar o bem do mal, que muitas vezes nos metem em prova e, nós, imaturos - como quando crianças, quando fomos julgados e punidos, por tão pouco ou simplesmente nada, ficamos com mêdo e nos culpamos, muitas vezes, assim , desenvolvemos um monte de doenças, que são justamente essas culpas e recalques impregnados no nosso espírito. Nessa mesma época, na minha escola Pituchinha, tinha um micro - ônibus, ele era lindo branquinho com listas vermelhas e azuis - as mesmas cores da farda, com uma gravatinha comprida vermelha; acho que foi o primeiro Ônibus escolar da cidade, antes dele aparecer, ia à pé com Lindalva, minha babá, para a escola, que não ficava tão longe da minha casa, que era no centro da cidade também. Pedi logo para papai, que acatava com todos os meus pedidos , para também ir de ônibus - para raiva de Silvina, uma das minhas irmãs, que não suportava a minha má criação e vivia reclamando, dos meus caprichos, sempre atendidos, apesar das suas forças contrárias. - nunca ouvidas, para sua total infelicidade. Às vezes ela brigava de se agarrar comigo e nos atracávamos e como ela era 10 anos mais velha, sempre ganhava e aí eu chateada, pedia socorro, para a minha dindinha, que chegava com a sua moral com papai e resolvia tudo a meu favor é claro - enquanto a outra, só podia mesmo, era se morder de raiva. Papai não se metia nessas brigas domésticas e mamãe também não se envolvia muito - pois essa tété, era o meu apelido, não tinha jeito mesmo, só a vida ia dar um jeito nela, um dia, quem sabe? Isso, ela disse numa outra ocasião, depois vamos chegar lá. Eu era a que morava mais perto da escola, mas no trajeto do ônibus, eu era a ultima a chegar em casa, passava pelo Anil, onde meu amigo mugrelha morava - quem me lembrou e pediu para eu escrever sobre esse famoso ônibus. Sei que tinha uma meninas mais velhas do que eu e um moça magrinha do cabelo curto e preto enroladinho, a coitada, que disque, tomava conta da gente, eu é que não queria estar no lugar dela! Comecei a fumar aí com essas garotas, à comprar carteira de cigarro e coisa e tal; nesses trajetos imensos e diários, que iam do centro ao Olho d’agua, uns 20 km da minha casa, pois elas moravam lá e, eu era a ultima à ser deixada em casa. Chegava na hora do Jornal Nacional, acho eu. Mas adorava a arrumação, nos divertíamos, cantávamos, fumávamos e a pobre da moça, que tomava conta da gente, depois resolveu colaborar e nos deixar fazer o que bem entendêssemos, dentro dessa nave espacial. Depois comecei a fumar lá embaixo no porão da minha casa e minha irmã Rosinha, seguindo o cheiro, acabou me descobrindo com Fulô – minha companheira infalível, de todas as horas e peraltices. Comecei a fumar aqueles cigarrinhos de chocolate, depois Du Maurier - que minha irmã, trazia do Rio – para ela é claro, Albany, Minister, Hollywood. Todo mundo fumava, era lindo! A primeira vez que fumei tinha 5 anos, foi uma outra irmã Fátima – irmã da minha dindinha, quem me deu – é lógico que foi eu quem pediu e ela me ensinou a tragar – eu pensava que tragar era engolir a fumaça e soltar pelo nariz. Alguns anos depois com Heloisa, é que fui entender que estava altamente equivocada. Não sei como a nossa farra do ônibus foi descoberta e acabou por acabar. A moça deve ter sido despedida e eu fiquei sem o meu aniversário de 8 anos. Mas graças a uma vizinha, Gracinha, loura linda e bailarina, que também me mimava bastante e gostava de fazer bolos, não passou em branco e, não passou mesmo. Ainda hoje me lembro desse bolo com cara de Mickey Mouse, as orelhas e cabelos de ameixa e os dentes de chiclete branco e aí, tchan, tchan, tchan, tchan !!!!! Na hora dos parabéns, tiraram a vela e colocaram um cigarro na boca do Mickey – deve ter sido Rosa ou Silvina – mais provável. Mas o que importa é que tive bolo, não importa se a vela foi um cigarro. E assim eu continuei à aprontar muitas e muitas outras, não existia limites para mim, só a vida iria me ensinar, ou não, quem sabe ?

parte 6 prelúdio ou interlúdio primeiro...(como quiserem ou...)...dos embalos de sábado à noite à pulp fiction...

E o meu filme continua fervilhando e rodando na minha tela interior, desfilando imagens de pessoas, de lugares, querendo retomar formas esquecidas, que já não são mais. Mas que podem certamente emergir de algum lugar das profundezas das minhas lembranças longínquas: Porém agora somente adormecidas e não mortas. Pois a morte, nada mais é que transmutação, transformação de energia, de emoção, de sentimento, de plano espiritual e, assim por diante. O que seria do amanhã se não fosse o hoje e o do hoje sem o ontem; Nada de nada, não devemos fugir do passado, nem do que foi bom e, muito menos do que foi ruim, temos de mergulhar no seio das nossas vivências, como uma volta ao útero e, tentar quem sabe nos procurando, lá naqueles momentos que passaram; Algumas vezes resolvidos, outros não, o que somos hoje; no que nos transformamos e o que ainda temos de buscar, para talvez nos resolvermos afinal; Somente assim, encarando o que fomos, talvez tenhamos alguma resposta para o que somos hoje e, talvez recuperando o que falhou ou o que não foi, resolveremos melhor o amanhã e assim sendo, quem sabe não seremos, o que queremos realmente ser, no futuro: Que nada mais é que o resultado das nossa atitudes, das nossa escolhas. E por isso é, que procuro insistentemente , garota sapeca, precoce, alegre e metida, que fui, para tentar entender essa mulher em quem me transformei.

sábado, 17 de outubro de 2009

parte 5...Preâmbulo primeiro....dos embalos de sábado à noite à pulp fiction...

Eu já até queria chegar ao Rio de Janeiro, mas acho que vou ainda fazer uns retrocessos e, tentar lembrar de alguns “causos” da minha bela infância e adolescência, por pedidos. E essa parte vai ser chamada de preâmbulos... antes dos embalos... Por causa da bendita TPM, que me deixa absolutamente irritável e insuportável, e o pior é que só piora, com o tempo, deve ser a temida e irremediável menor pausa, que não deve tardar a chegar, pois afinal de contas o tempo passa - minha filha - e não é só para mim, não! hahahahahah!!!!!! , acabei tendo de dar um tempo nas minhas reminiscências e de ter de escrever sobre isso ou aquilo ou aquilo outro. Mas agora vamos dar um rolé no passado e, saborear dos velhos tempos idos, aqueles que foram, mas que fizeram data, nas nossas lembranças e que ninguém, nem nenhum infortúnio, é capaz de apagar. Meus tempos de infância, nessa cidade pacata e tranqüila, onde ainda se podia brincar na rua, até altas horas. Brincávamos de queimado, de pegador, de basquete, dávamos voltas e mais voltas de bicicleta, no quarteirão e, descíamos ladeira abaixo, de mãos soltas e olhos fechados, sem responsabilidades, sem travas, sem amarras, com o único intuito de sermos felizes. Tudo era alegria, risos e gargalhadas gostosas, que ecoavam nas ruas silenciosas de outrora. Eu e minhas eternas amizades, como: Florise, Carla, Mariquinha, Ana Claúdia, Zé Matias, Serjola, Yolanda e tantos outros... Divertíamos-nos, cantando e dançando na chuva, que descia como um torrente de cachoeira, das velhas calhas dos sobrados coloniais e tinha também os banhos no tanque com Fulô, pois piscina, só no Casino Maranhense, quase todos os domingos depois da missa, que graças à Deus, eu não ia nunca - ficava na pracinha Benedito Leite, ou ia no Roxy (antigo cinema da cidade, hoje sobreviveu, mas só passa filme pornô e tem sempre uns tarados que frequentam), assistir as matinés - onde vi meu primeiro clássico 'Mary Poppins"; Catávamos carangueijinhos nos mangues, onde hoje se encontra o Anel Viário, estrada que recuou o mar, nos deixando mais longe dos barcos de velas, que ainda colorem o horizonte rosa púrpura, das tardes ensolaradas e bronzeadas, coroadas de pores do sol, sublimes, que só nessa ilha maravilhosa, porém abandonada, podemos contemplar. Nas rodas de ciranda, cirandávamos, a volta e meia, atirávamos o pau no gato e ele não morria nunca, íamos todos os dias na Espanha com a samba lêlé, comprar um chapéu de três pontas azul e branco e, ladrilhávamos as ruas de pedrinhas de brilhante, Usávamos vestidinhos curto e mostrávamos as perninhas grossas- quando se tinha é claro - Mas papai não gostava e daí? Éramos inocentes e ingênuos, como a gota d’água que cresceu e se desfez... Pulávamos elástico e can can e subíamos ao topo do céu, nos nossos delírios eufóricos e infantis. Corávamos de vergonha, no jogo da salada mixta, onde tínhamos de beijar ou ser abraçados, por um coleguinha querido, esboçando assim, as primeiras paixões, que chegavam junto com a puberdade e as descobertas do sexo oposto, que ainda não prevaleciam nas nossas emoções. Boca de forno, que nos mandavam fazer o que não queríamos, mas já sonhávamos. As brincadeiras de médico, de esconde-esconde e de pimentinha pimentão, malagueta, algodão ou avião, as bóias de câmera de pneu de caminhão, que levávamos para a praia, nas excursões de papai, na combe azul e branca, dirigida por Expedito, grandes expedicões no Araçagi, com direito à mergulhos no rio que passava por lá, no bar Peixoto. e depois já cansados de tanto mar e sol, deitavámos , nas bóias de câmera de ar e, nos endormíamos como num sofá, na frente da televisão, assistindo certamente Chacrinha, pois ainda não tinha o chato do Faustão, ou a podridão do è fantastico, um homem de elástico..." Éramos felizes e nem sabíamos o que era felicidade; Pois a felicidade é esse total espírito de leveza e bem estar, onde boiamos em águas plácidas, vivenciando momentos, que não procuramos, mas que vivemos simplesmente e onde não há, nenhuma explicação. Um pé de moleque (arroz amassado, pela mão de Firmina), um sorvete de chocolate – feito com Jeneve, bolacha Maria ou água e sal com goiabada. Um sorvete de ameixa do Hotel Central ou um daqueles de coco da rua mesmo, um cachorro quente com pepino, cebola e tomate, no mercado, ou simplesmente uma salsicha no pão, na Mouraria ou no quiosque do parque Bom Menino... Uma revistinha do tio Patinhas ou do cebolinha na mão, a lua lá em cima, saindo por detrás de um balão, na época de São João, que não era lua e nem nada, era somente, meu pai Nerval, fazendo uma canção, em plena escuridão estrelada, numa noite de apagão e, aí bate, mé irmão, uma saudade imensa lá no fundo do coração.

domingo, 4 de outubro de 2009

parte 4... dos embalos de sábado à noite à pulp fiction...

Agora sim, estava na flor da idade, o mundo era meu!!! - não sabia o que me esperava pela frente hahahahaha!!! Fora os conflitos com os pais, preocupação com que roupa ia para a boate, de quanto é que ia ser a facada, que ia dar no pai pra comprar roupa nova - porque não repetia, nunca, nem pensar numa coisa dessas; se ia ter sol para ir se queimar na praia, de biquíni de chita de florzinha - que a empregada da casa de Heloisa, a minha melhor amiga, fazia um monte pra agente e, ficávamos trocando - assim não se repetia e, as pessoas achavam que agente tinha vários; ía sempre nas férias à praia com Heloisa e Kátia, - dessa aí morria de ciúmes, Helô conheceu essa colega nova numa viagem que fez para o Rio – quanto à mim, eu nunca viajava, só ficava olhando os meus amigos e, a minha irmã mais velha, "a minha dindinha", Doutora Rosário, que já era médica de pele - já curou até um homem que já tinha perdido a orelha, ele tinha lepra e não sabia, foi ela quem descobriu - dizia com orgulho, o meu pai e, repetia sempre – todo mundo aqui ia estudar ou passear no Rio e, papai não deixava eu viajar, morria de vontade de ir para o Rio de Janeiro eu também, passar as férias e, o maximo que conseguia do meu pai, era ir ver os aviões no aeroporto, ou seja ficava à ver aviões; mas meu dia vai chegar, um dia eu vou! papai querendo ou não querendo , ah! se vou ... - vivia jurando e dizendo à mim mesmo. Heloisa "Rainha de gafieira " e eu "Rainha de discoteca", brincávamos entre nós; até então ela só tinha eu de melhor amiga, antes da tal viagem pro Rio. Ela tinha um namorado - dele, eu gostava e não tinha ciúmes era tipo como se ele fosse meu também, dá pra sacar? Ele morava no Caiçara - único prédio, que tinha aqui na ilha, pois São Luis, pra quem não sabe é uma das três capitais ilhas, pelo menos era assim, na minha época; Desde pequena, antes de conhecer o namorado da minha amiga, já achava ele, lindo, um verdadeiro pão!!! moreno dos olhos azuis, ele era encantador, um gato! via sempre ele, quando meu pai me levava pra trocar figurinha repetida, daqueles famosos álbuns que agente colecionava na época - que diga-se de passagem, uma vez que se completava, quando, se completava, não servia para nada; lá no prédio que ele morava, onde tinha uma banca de revistas; ele nunca me enxergou, só fomos nos conhecer mesmo, quando ele foi estudar, lá no "meu" colégio Batista, parece, que ele tinha sido comprado, para jogar basquete ; pois os colégios compravam, os atletas promissores e os que se sobressaíam, nos JEMS ( Jogos Estudantis Maranhense ) – Oh época boa! Eles me chamavam de filha e eu vivia segurando vela para os dois pombinhos apaixonados - lembro principalmente da mureta do John Kennedy Center, onde estudavámos Inglês e ficavámos namorando, ou melhor, eles namoravam e eu olhava- ficava feiz de verdade de poder assistir de tão perto o meu romance preferido, era como um filme, onde eu era a única espectadora, hahaha! Eu adorava esses dois, eles tinham uns três anos mais do que eu e, fiquei muito triste, quando esse romance acabou; ele numa das férias que ela tinha viajado, ficou com uma menina que acabou engravidando e, mesmo apaixonado pela minha amiga, acabou ficando com a outra e casando, bem novinho, que pena! Nunca esqueci uma coisa, que ele me disse na época - a carne é fraca! não entendi bulhufas, só sei que acabou o que era doce, e tudo por causa dessa tal carne, e ele perdeu o grande amor da vida dele. Acho que essa foi a minha primeira e grande decepção de amor, que vivi por tabela. Eu sempre fui muito platônica e preferia viver minhas histórias de amor na minha cabeça. Ficava ali sonhando acordada, idealizando como eles agiriam, o que diriam, como me beijariam? Sempre tinha um paquera para protagonizar o "meu filme", interpretando o papel de príncipe encantado. Não gostava muito de namorar, preferia como disse paquerar e sonhar...Mas de vez enquanto rolava alguma coisa, tipo um beijinho, mas era raro e sempre dava um jeito de fugir, preferindo ficar com os amores que não se concretizavam. Eu e minhas amigas, tínhamos códigos, para falar dos paqueras, para que ninguém descobrisse e no meu caso , para que eles mesmos, não soubessem do meu interesse por eles, e o quão eram importantes na minha história. E assim fui continuando à platonizar as minhas paixões encubadas. Porque era assim comigo, eu não sabia, só sabia que me achava diferente e esquisita das minhas amigas que já namoravam firme e eu, ficava ali à ver navio e avião, quase sempre de vela na mão. Mas continuava positivamente à pensar, um dia eu também......